Yahweh: O consorte da Deusa Aysherah: Ele nem sempre esteve só

agosto 17, 2019by João Batista0

A presença, o surgimento de deuses masculinos é tardia. A princípio, por mais de 30.000 anos, ou seja, maior parte da sua existência, a humanidade cultuou uma Deusa. Portanto, o culto a uma Deusa seria o caso normal e o culto a um deus, o caso especial o que explica o título desta postagem já que, à medida que o patriarcado vai se afirmando a Deusa passa a ocupar um posição secundária até ser totalmente proibida e demonizada.  No entanto, o início do patriarcado e estabelecimento de deuses masculinos, que na maioria dos casos eram dominadores, violentos e irascíveis mudaram esta perspectiva. A partir daí, aparecem aos pares e com a ascensão do patriarcado, as deusas e seu culto são destruídos e demonizados. Algo similar aconteceu em Canaã com a Deusa Asherah que passou a ter um consorte chamado Yaweh, posteriormente passou a ser consorte deste e por fim, vista como inimiga do mesmo e seu culto proibido e demonizado. E atualmente poucos conhecem as origens pagãs do cristianismo e outras religiões abramânicas, corrompidas por interesses nacionalistas e conservadoras. Com a proibição do culto a Asherah, este culto se torna subterrâneo, assim como foi com o culto a outras deusas. Talvez, a demonização das deusas seja reflexo das mudanças pelas quais passam a humanidade tendo o feminino no sagrado substituído pelo sagrado no masculino. Enfim, quem lê a Bíblia ou se liga a alguma tradição cristã tem a impressão que Yahweh sempre esteve só e talvez nunca tenha se perguntado a respeito desse assunto. No entanto, nem sempre foi assim. De acordo com descobertas arqueológicas, antes da ascensão do monoteísmo, Yahweh fazia parte de um contexto politeísta e possuía uma consorte chamada Ayshera. “o culto da Deusa Árvore Asherah realizava-se, principalmente, em torno de uma árvore natural ou estilizada, ou seja, de um poste sagrado que podia estar ao lado de um altar seu ou de uma outra divindade, inclusive YHWH. Porém, seu culto foi realizado, de preferência, debaixo de uma árvore natural, nos chamados ‘lugares altos’, santuários ao ar vivo no topo das colinas e montanhas. Na maioria do tempo, uma imagem ou símbolo de Asherah estava também presente dentro do próprio templo de Jerusalém (Ottermann, 2005:.49). Ana Luísa Alves Cordeiro, Bacharel em Teologia pela Universidade Católica de Goiás, em seu artigo “Asherah: A deusa proibida” tem como objetivo “re-imaginar” Asherah a partir de uma análise crítica ao patriarcado por meio dos textos bíblicos, reconstruindo a memória da Deusa a partir dos dados arqueológicos e identificando na literatura bíblica a relação conflituosa que se estabelece com ela. Segundo Ana Luisa, “re-imaginar o poder divino como Deusa tem importantes conseqüências psicológicas e políticas”, como caminho de desconstrução do pensamento que naturaliza a dominação masculina. O culto à Deusa era exercido tanto por homens como por mulheres, mas veio sobretudo ao encontro das necessidades das mulheres, pois lhes oferecia mais espaço no âmbito religioso. Afirmar Asherah como Deusa é polêmico, mas necessário à religião e à pesquisa bíblica. Dar voz a uma época em que Deuses e Deusas eram adorados, em que o próprio Yahweh foi adorado ao lado de Asherah, nos impulsiona a re-pensar não só as relações pré-estabelecidas entre homens e mulheres, bem como, a própria representação do sagrado estabelecida. Re-imaginar o sagrado como Deusa é re-imaginar as relações de poder, não numa tentativa de apagar a presença de Deus e sim de dar espaço ao feminino no sagrado, novamente o feminino não como um atributo do Deus masculino, mas como Deusa. Desestigmatizar, humanizar e reafirmar a existência da Deusa nos dias atuais não é apenas uma forma de fazer justiça, mas de lutar em favor da libertação não só das mulheres, mas do feminino que foi subordinado tanto em homens, quanto nas mulheres ou no sagrado. Leia o texto completo de Ana Luisa Alves Cordeiro Recuperando o imaginário da deusa: Estudo sobre a divindade Aserá no antigo Israel

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