
Segundo o psiquiatra Carl Jung, “no inconsciente de cada homem está oculta uma personalidade feminina e há uma personalidade masculina oculta em cada mulher”. E alerta também que o sexo de cada pessoa “é determinado por uma maioria de genes masculinos ou femininos. A minoria dos genes do outro sexo não desaparece”. Constata , portanto, “que o homem tem, portanto, em si um lado de características femininas, isto é, ele mesmo tem uma forma feminina inconsciente, fato de que em geral ele não tem a menor consciência”. Jung chamou a esta figura no inconsciente do homem de “Anima” e a esta figura no inconsciente da mulher de “Animus”. Esta figura trata de um arquétipo e está localizado no inconsciente coletivo e quando um conjunto de experiências o constela, ele exerce influência sobre a pessoa, apresentando estas características de forma numinosa e fascinante.
Esta forma é criada no inconsciente do homem desde seu nascimento a partir do seu relacionamento com figuras do sexo oposto como mãe, irmãs, tias, avós, etc. Nos contos, nos mitos, sonhos e fantasias, a Anima aparece na forma de fadas, ninfas, princesas e cisnes. Dai ser muito comum o homem apaixonado se referir a seu objeto de amor pelas palavras fada ou princesa se referindo inconsciente a sua Anima. Já o Animus aparece nos contos na figura do príncipe. Daí muitas mulheres se referirem a seus namorados por “Príncipes”, se referindo, portanto, também inconscientemente a seu Animus, àquela imagem ideal que ela carrega consigo.
Primeiramente o menino projeta esta imagem sobre a mãe e a vê como um ser maravilhoso, divinizado. No entanto, a partir da constatação que esta vai se transformando e se distanciando do ideal, ele reprime esta idealização. Posteriormente, esta imagem tenta se manifestar e o menino tenta dar expressão a ela se utilizando de brinquedos de meninas mulheres ou se fantasiando de mulher. Neste momento, sem entender os motivos do comportamento da criança e muito confusos, os pais o reprimem, temendo tratar de um caso de homossexualidade. E mais uma vez a criança reprime suas características femininas. E acaba descobrindo que o relacionamento com o sexo oposto, com o feminino não é algo fácil ou louvável. Porém neste ato de repressão, acaba reprimindo qualidades fantásticas num ser humano e que seriam importantes em seu desenvolvimento. Assim, reprime também o senso de solidariedade, de humanidade, de estética, beleza e outras características femininas tão importantes em nossa época. O menino é violentado e passa a viver desconectado de si mesmo, separado de uma parte de si mesmo, carregando por toda vida uma certa tristeza, a sensação de estar possuído por um buraco, um vazio, como se faltasse algo. Esta desconexão consigo mesmo, é confirmada quando na segunda infância e na adolescência os colegas rotulam e veem de mau grado aqueles que expressam a sua feminilidade, rotulando-os de gays, mulherzinhas, etc. A partir deste momento o menino adere ao código viril e tomará todo o cuidado para não exprimir estas características a fim de não ser reprovado.
A partir dai, o menino e mesmo na fase adulta, vai buscar estas características perdidas e a suprir este vazio no sexo oposto. Quando aparece uma mulher que lhe chama a atenção, imediatamente projeta sobre ela, de forma inconsciente a sua Anima reprimida, ou seja, os seus aspectos femininos reprimidos e passa a ver naquele objeto características que possui somente nele mesmo, em sua personalidade, como a suavidade nos traços, a beleza, o encanto, o carinho, etc. Ele fica extasiado. Daí dizer que o homem é apaixonado por si mesmo. Projeção consiste em atribuir de forma inconsciente a um objeto, características que temos inconscientes em nós mesmos. E daí as belas expressões: “Se vês a beleza em mim mesmo é porque ela existe primeiro em você” que é chamado também de espelhamento. E ao realizar esta projeção, ele se apaixona. E por ver a sua Anima naquela mulher (uma parte ansiada e negada de sua personalidade), ele deseja mais que tudo se unir ao objeto. Diz-se que aquele objeto tem aprisionada a Anima do homem apaixonado e por isso mesmo, a mulher possui certo grau de poder e vantagem em relação a ele. É por esse motivo também que qualquer possibilidade de separação do objeto alvo de projeção é sinônimo de dor, sofrimento. O homem se desespera e comete atos irracionais que ele não faria em algumas ocasiões. Em algumas situações quando o objeto se recusa a união com aquele que projeta, temos as exigências, manipulações, controles e até mesmo formas de violências. Daí dizer que o homem é violento porque foi originariamente violentado. No caso de relacionamentos que se iniciaram e permaneceram, ele recebe a atenção da mulher e passa a partir de um ponto crítico, a cobrar uma atenção que somente sua Anima pode lhe oferecer. Este se trata daqueles casos em que mesmo estando com o objeto amado ele ainda permanece insatisfeito. A insatisfação se deve porque mesmo que ele una ao objeto, ele ainda se sentirá desconectado de sua essência feminina. E me parece que o mesmo ocorre com a mulher quando se apaixona. Ela projeta o seu Animus (a sua outra parte masculina) sobre o homem e pretende se unir a ele como forma de se reconectar consigo mesma. Enfim. Nos apaixonamos porque projetamos sobre as mulheres a nossa parte feminina e tentamos no unir a elas como estratégia para nos reconectarmos com esta parte da nossa personalidade. Da mesma forma ocorre com a mulher. Mas e por que nos desapaixonamos?
Às vezes o relacionamento está transcorrendo normalmente e de repente era como se tudo tivesse acabado. Isso acontece porque o parceiro deixou de projetar a sua parte reprimida sobre o parceira ou vice-versa. Enfim, eliminando a projeção, acaba a paixão e é conduzido a um rompimento. Afinal, não faz mais sentido continuar se agora estou em poder de minha Anima.
Homens precisam acolher sua mulher interna
Para romper com este padrão de dor e termos relacionamentos mais felizes e duradouros, nós os homens precisamos antes de se apaixonar por outra pessoa ir em busca de nossa Anima, ou seja, da nossa feminilidade reprimida e acolhê-la. É necessário aceitar o fato, encontrar a Anima, aceitá-la, acolhê-la, dialogar com ela. Psicológos Junguianos afirmam que não existe nenhum perigo nisso e que o perigo consiste em ignorar esta parte da nossa personalidade. Conta-se que o próprio Jung estabelecia diálogos com sua Anima sobre as pesquisas envolvendo os arquétipos. E sua esposa Emma Jung, no livro “Anima/Animus” ao interpretar alguns contos, fala das possibilidades de desenvolvimento do ser humano a partir do relacionamento com sua Anima. De certa forma, antes de se apaixonar por outra pessoa, precisamos nos apaixonar primeiro por nós mesmos, ou seja, pela nossa Anima ou pelo nosso Animus. Este ser sumamente puro, inocente, fiel que se encontra em nosso âmago, que conhece profundamente a nós mesmos e que jamais nos abandonará ou nos trairá, servirá de parâmetro para estabelecermos nossos relacionamentos e para os estabelecermos de forma saudável, ou seja, isentos de carências, dor, exigências, cobranças, invasões, violências, etc. Da mesma forma evitará que o homem ou a mulher permaneça numa relação desigual. Se tenho o amor e me relaciono muito bem com um ser sumamente perfeito (a minha Anima ou meu Animus, no caso das mulheres ), é certo que não vou permanecer numa relação que me oprime, justamente por não mais projetar ou ver nesta pessoa um ser perfeito. Se me relaciono bem com minha Anima, no caso do homem e se me relaciono bem com meu Animus, no caso da mulher, é certo que não preciso exigir da minha parceira algo que ela não possa me oferecer. Algo que somente minha Anima possa oferecer. E à partir desta percepção do que se espera de um relacionamento, daquilo que ele não pode oferecer e onde posso encontrar o que me falta é que se estabelece o equilíbrio, o acordo e a relação pode durar e se desenvolver.
Por outro lado, o bom relacionamento com sua Anima ou com seu Animus trará benefícios interessantes para o indivíduo e haverá de melhorar o relacionamento dele consigo mesmo, com as demais pessoas e com o mundo à sua volta, pois possibilitará uma compreensão mais profunda do outro e trará compaixão. E o mais importante, é a Anima que mediará o contato com o si-mesmo, limpará o eixo ego-si mesmo, abrindo espaço para o processo de individuação. Segundo o site Antroposofy, a Anima possui como características positivas o calor nos sentimentos, a capacidade de amar; atribuir significados mais profundos e humanos; compadecer-se com o sentimento alheio; cuidar; ouvir; a criatividade; a beleza; a leveza; senso estético; a religação com o espiritual. Segundo o site Antroposofy o Animus tem como características a força de iniciativa, força de ação; o falar; o pensamento claro; raciocínio lógico; concentração; cumprimento de metas, aspiração; Lutar; Empreender o novo e Força do discernimento.
Segundo o site Antroposofy se o homem integra sua Anima ele desenvolve: a capacidade de sentir o que se passa no outro ser humano, Desenvolve a retidão de caráter; A ponderação no julgamento; A sensibilidade em lidar com o outro; O senso de Justiça; A polidez; A gentileza; Liberta o sentir; A criatividade; A capacidade de ouvir; A integração com a família; A capacidade de liderança; Encontra um sentido para a vida; Respeito e devoção pela mulher e o interesse pela ecologia.
Segundo o site Antroposofy, se o homem não integra sua anima ele se torna: Excessivamente agressivo, Vingativo; “Embruxado”; Emotividade inferior, fala-se de uma alma endurecida; Se torna excessivamente “palhaço”, não leva nada a sério; Não respeita a mulher; Torna-se um mal caráter; Não consegue ponderar as coisas; Torna-se grosseiro; Não é criativo; Não tem modos, vira uma “mulher bem vulgar.”; Torna-se materialista, não consegue ver o lado espiritual das coisas; Pode tornar-se um alcoólatra ou adicto em drogas como cocaína; Torna-se machista, acha que a mulher merece ser punida; Torna-se fraco e sem vontade, dependente da mulher; Unilateral, com uma bitolação no pensamento; Não consegue se comprometer com nada na vida e não sustenta promessa
Segundo o site Antroposofy, se a mulher integra seu Animus, ela desenvolve a capacidade de concentração; Capacidade de agir; Pensamento claro; Equalizar a simpatia e a antipatia; Não se deixa subvalorizar; Tornar-se mulher e não mãe; torna-se forte mas não “machona”; Raciocínio lógico; Objetiva sentimentos e não se deixar levar por ele; Compreende o Homem de maneira mais abrangente; Passar a ter metas e aspirações e conseguir trazê-las para terra; A capacidade de controlar a fala e não ser fofoqueira; A capacidade de manter-se neutra e não criar conflitos; Capacidade acolher e cuidar do outro; Compreensão mais ampla de seu papel e a doação para família e A força do discernimento diferenciando o real da fantasia
Segundo o site Antroposofy, se a mulher não integra o Animus ela se torna: Vulgar, “Machona”, disputa tudo com o homem; Fria e dura; Perde a sensibilidade; Tem sempre o sentimento de ser injustiçada porque se compara ao homem; Tem opiniões pré fixadas; Mãe autoritária; Excessivamente regrada, transforma a casa em um quartel general; Excessivamente dependente do marido e dos filhos; Muito fantasiosa chegando ao histerismo; Medo de tudo e de todos; Busca constante proteção; Quer disputar o tempo inteiro; Excessivamente julgadora; Aproxima-se sempre de homens mais frágeis para poder ser a “comandante” da situação. O bom relacionamento com a Anima e com o Animus poderá servir como parâmetro para os relacionamentos e impedir devoramentos e de ser devorado pelo outro.
Como encontrar-se com sua Anima
Uma das formas de se reconectar com sua Anima ou com o seu Animus pode se dar por meio da arte como por exemplo, por meio de uma pintura, uma escultura, de um conto, um romance, um poema. Você poderá experimentar, por exemplo, escrever uma carta para sua Anima. É um relacionamento difícil, talvez seja mais fácil ir em busca da criança abandonada ou iluminar o arquétipo da sombra. Se a criança abandonada ou ferida contém as marcas do mal que nos fizeram; a sombra, aquelas questões que resolvemos reprimir por medo ou vergonha; a Anima cerca-se de obstáculos como tabus, regras sociais, o medo, o próprio código viril que precisa ser questionado. No entanto, para aquele que se aventurar, as promessas de inteireza consigo mesmo e com o outro são grandes. Como diz lá onde tens maior medo de ir, estará o seu maior tesouro.
O site Antroposofy cita como estratégias para integrar a Anima o que poderá constelar o arquétipo: Exercitar a parceria nas relações, se dispor a trabalhar em equipe; Se colocar a serviço do outro; Cuidar dos filhos ou de crianças; Praticar atividade artística; Buscar o espiritual; Cultivar a fantasia ativa – experimente escrever para sua anima; Cultivar a religiosidade; Procurar o encontro com seu Eu; Cuidar da casa; Fazer trabalhos manuais; Fazer atividades lúdicas – brincar; Cantar ou dançar e fazer atividades que exijam paciência. Para cultivar o Animus poderá Exercitar a parceria nas relações, se aproximar verdadeiramente das pessoas; Promover a organização da casa, do trabalho, da agenda; Buscar a realização profissional; Buscar o espiritual; Estudar ciência, matemática, filosofia, história; Cultivar a fantasia ativa – experimente escrever para seu animus; Procurar o encontro com seu Eu; Trabalhar com a terra; Estudar de forma sistemática, Trabalhar com atividades que exijam prazo e Iniciar um projeto pessoal por menor que seja.
Pessoalmente, acredito que o culto a deusa, ao sagrado feminino e o estudo da astrologia dracônica auxilie neste encontro e integração da Anima.